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A Praça do meu País

  • Por Mayara Martins
  • 25 de mai. de 2016
  • 2 min de leitura

Barulho, movimentação e homens brancos nos bares debatendo sobre suas mais recentes aventuras alcoólicas, diferem em absoluto daqueles que também circulavam pela Rua Canindé em um teoricamente domingo monótono. Estes eram de pele morena, aparência simples, vestimenta modesta e cabelos lisos e negros. Ao passar pelo muro de uma escola que ocupa quase a Rua Araguaia inteira, três bares ás moscas e uma venda popular, estas pessoas morenas e com rostos redondos, se multiplicaram na velocidade da luz.


A partir de então, a audição passa a ser dominada pelo som de duas flautas de pã sendo tocadas ao mesmo tempo, em perfeita harmonia. O campo de visão é bombardeado a todo instante com o surgimento de novas barracas. O paladar fica aguçado diante dos enormes cartazes divulgando os alimentos alí servidos. O tato é instantaneamente desafiado pelo interesse de tocar três polleras que eram vendidas em uma das barracas e fazem parte do traje utilizado para dançar a Morenada. Ao redor, a quantidade de pessoas de pele morena e rostos redondos que antes era grande, agora era absoluta.


Antes da massa de estrangeiros chegar, é realizada a divisão de tarefas em família: pai e filho eram responsáveis pelo corte de cabelo de todos os compatriotas que circulavam pelas ruas, enquanto mãe e filha começavam a preparar o alimento típico que seria servido algumas horas depois, no almoço, que contava com um cardápio a fim de agradar a todos os gostos. A diversidade era nítida, pois aqueles que preferem estacionar em sua zona de conforto podem optar pelo prato Pollo Al Forno, que é composto por arroz, frango e batata frita, enquanto os estrangeiros curiosos podem pedir o famoso Fricasé de Cerdo, que é uma mistura de milho, vagem, carnes e muita pimenta.


O cinza da capital paulista, naquele lugar, não tem vez e nem voz. As cores que reinam em absoluto são: vermelho, amarelo e verde e o ambiente faz alusão a uma quermesse de interior. É impossível não saltar os olhos ao ver as mulheres que caminham tranquilamente ao redor da praça com seus bebês pendurados nas costas, enrolados com um manto detalhadamente decorado e sem demonstrar nenhuma expressão de esforço físico.


A flor Kantuta, que possui as mesmas cores dos toldos que recobriam as barracas e deu nome a praça, está presente também nas saias longas de algumas das moças que circulavam pelo local e nas malhas de lã de lhama vendidas nas barracas de artesanato. Malhas estas, que juntamente aos gorros de frio bem desenhados, são os itens que mais atraem olhares estrangeiros. A exatos nove minutos a pé da saída do metro Armênia, as pessoas de rostos redondos e pele morena fizeram-se donos de um espaço, este que antes mesmo de tornar-se um local utilizado para divulgar uma cultura, é um cantinho “deles para eles”, que conta com as impressões digitais de um povo que se sente em casa, mesmo estando longe dela. Um espaço onde os estrangeiros, sejam eles brancos, negros ou pardos, devem dedicar um pouco do seu tempo a entender cada ação que por lá se fazia, para quem sabe assim, se tornarem dignos da “chuva cultural” que é a Kantuta.


 
 
 

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