São Paulo tem coração
- Carolina Alberti
- 10 de mai. de 2016
- 3 min de leitura
A cidade é o espelho de seu povo. Sem ele, seria apenas um espaço vazio, sem som, sem cor, sem vida. Seria um amontoado de concreto sem finalidade e sem ninguém para admirar. Um conjunto de parques para os bichos aproveitarem. Carros para ninguém usar, cores para ninguém pintar. Um espaço morto, inútil e abandonado. Dessa forma, a cor e a vida de uma cidade advêm de sua população. Ela é a responsável por trazer adjetivos, substantivos e até advérbios a um espaço.
Sem sequer um admirador, até a mais bela escultura perde seu signo.
São Paulo exala esta vivacidade. 11 milhões de habitantes, das mais diversas culturas, arquitetam a cidade ao seu lar, de forma com que esta seja um parente, um semelhante. Seus cartões-postais seriam apenas belas arquiteturas sem pessoas para ocupá-los, frios, estáticos e inúteis. Como jogar uma final de campeonato, sem o barulho da bateria, o canto dos apaixonados, estrelas que explodem no céu e cores que ilustram harmonia e identidade.
O Pacaembu sente saudades de abrigar grandes jogos como fez a Arena Corinthians durante a Copa do
Mundo.
Foi o que se tornou a Estação da Luz. O Big Ben paulistano hoje se resume a um acessório para a população. Com o incêndio no Museu da Língua Portuguesa, os arredores deste belo monumento ganharam uma atmosfera trágica. Onde antes passavam centenas de pessoas todos os dias, hoje tem como espectadores o céu, pessoas que vivem nas ruas e alguns transeuntes que procuram a entrada do metro ou vão em direção ao bairro do Bom Retiro. Rostos tristes e cheios de lamentações foram os únicos que sobraram ao nosso grande relógio.
O céu azul foi o companheiro que restou ao grande e, agora solitário, relógio.
Antes barulhentos, hoje os arredores da Estação da Luz são preenchidos pelo vácuo.
Cenário adverso ao do Theatro Municipal. Com mais de um século de existência, este marco histórico vive rodeado de pessoas. Desde aquelas que se dirigem aos mais diversos locais do centro velho, que tem esta obra de arte como um plano de fundo em seu caminho, até aquelas que o utilizam como ponto de encontro.
O berço da cultura erudita também abriga o monótono dia a dia dos paulistanos.
O Theatro Municipal não reúne apenas amantes de obras eruditas. Durante o dia, as escadarias do velho teatro são formadas não mais por concreto, mas sim por pessoas. Com roupas sociais ou despojadas e rasgadas, todos tornam o teatro um organismo vivo, assim como as peças em seu majestoso palco encenadas. O teatro torna-se, então, um ponto de encontro na hora do almoço para os que trabalham, um local de lazer para os fãs de boas e clássicas peças, fonte de inspiração para os futuros arquitetos e até uma pista de skate improvisada.
A arquitetura do Municipal também chama a atenção. Imponente e rebuscada, apesar de um pouco pichada, a arquitetura barroca contrasta com o cinza dos prédios ao seu redor. Em um pequeno raio, é possível sentir a São Paulo de ontem e hoje. Entrar em uma novela da época dos bondes e do romantismo e, ao mesmo tempo, viver a modernidade da floresta cinza e dos animais metalizados com seres apressados dentro.
Bucolismo e modernidade se misturam no centro da Terra da Garoa.
O mesmo ocorre com o Parque da Água Branca. Localizado na Zona Oeste da capital, em meio a universidades, shoppings e até um estádio de futebol, parque recupera uma São Paulo que, para muitos não existe mais. Com um cenário bucólico, verde e amarelo, ele cria, juntamente com os seus visitantes, um local de união do antigo com o novo, moderno.
Animais e arquitetura retro trazem a São Paulo da época do café com um toque de fantasia e romance.
Os parques também são pontos de encontro. Calmos, tranquilos e cheios de vida, eles são a rota de fuga da caótica e barulhenta vida paulistana.
A paz do Parque Buenos Aires e a Av. Paulista dividem o mesmo espaço.
Cheia de contraste e semelhanças, São Paulo preserva e constrói sua face com o passar dos anos, como uma grande máquina repleta de engrenagens. Contudo, em todo este maquinário, existe um coração, formado por milhares de pequenas veias, que fazem com que a cidade faça sentido e tenha utilidade. São Paulo nada mais é do que um retrato desde grande e pulsante coração, diferente, com culturas e características próprias e muitas vezes opostas, mas que, num todo, fazem sentido.










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