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São Paulo, seja bem vindo

  • Maria Carolina Rossi
  • 10 de mai. de 2016
  • 4 min de leitura

A terra da garoa conhecida por acolher diversos imigrantes, propaga sua fama ao dar espaço aos Sírios e Árabes refugiados


“As bombas da guerra destruíram tudo material e me levaram familiares. Na Síria tinha uma fábrica de filtros de água, as bombas levaram. Vim primeiro ao Brasil, há um ano e meio, tempos depois consegui trazer minha família. O que restou dela – minha esposa e quatro filhos. Estou gostando do Brasil, fui bem acolhido e estou seguindo minha vida”, emocionado deixa escapar na bancada de sua loja o Jehad Alhafi dono da Casa Narguile em Santana, São Paulo.”


Salamaleico, diz o paulistano Gabriel Brito ao passar pela Rua Doutor Cesar, Santana, em frente à casa de narguilé do morador que mudou a rotina de quem mora em volta. “Sempre gostei de fumar narguilé, mas depois que o Jehad veio para o nosso bairro vi que o narguilé não é só uma costume em nosso grupo de amigos, mas que faz parte da cultura de uma nação forte. Além disso ele trouxe seu bom-humor e simpatia para nossa rua. Ele é uma celebridade aqui no bairro e um exemplo de quem não abaixa a cabeça para os obstáculos da vida”, empolgado, com uma essência de mente na mão, confessa o jovem estudante de tecnologia da informação.


Assim como Jehad muitos Sírios percorrem 10 mil quilômetros para chegar em terras brasileiras. Fugidos de guerras, perseguições e a pobreza. Segundo o Conare (Comite Nacional para os Refugiados) – órgão ligado ao Ministério da Justiça, 2.077 Sírios receberam status de refugiados do governo brasileiro de 2011 até agosto deste 2015.


Advogados, engenheiros, camponeses. Homens e mulheres com todos os perfis socioeconômicos, mas que buscam no brasil a mesma coisa: a esperança de recomeçar em paz. Esses são os diversos perfis dos Árabes espalhados por São Paulo. Em um pequeno salão, amarelo e simples na Rua Cônego Eugênio Leite, em pinheiros está a Damascus, uma casa de doces e comidas árabes, dentro apenas algumas banquetas para se acomodar e pedir os pratos que já fazem parte do paladar dos brasileiros. Quem comanda a casa são 5 Arabes que se refugiaram no Brasil: Ahmad Saeed, Saleem Zafary, Tammam, Tarik e Khaldon, nomes difíceis, mas que já estão na boca dos vizinhos e da freguesia da loja.


Paulistanos também saem ganhando com a presença dos Sírios e Árabes, passam a ter a oportunidade de provar opções já conhecidas ao nosso paladar como quibe, esfiha, homus, qualhada e outras maravilhas. Comprar na Damascus não é nem um problema mesmo com o sotaque ainda carregado dos refugiados. “Eles são bem receptivos e consigo me comunicar bem com eles mesmo não sabendo nada em Árabe. Passo toda a semana aqui para comprar um docinho, antes não conhecia os doces árabes, hoje já sou fã e levei isso para minha família toda”, elogia a jovem, com um mamul de damasco na mão, Bárbara Lourenço que passa todos os dias pela loja voltando do seu curso de turismo.


Entre os sócios da doceria o que fala melhor o português é o Ahmad com apenas 26 anos. “Na Síria trabalhava com uma atividade muito diferente e não tinha nem namorada, vim ao Brasil e gosto muito, tanto que conheci minha mulher, ela também veio de longe, da Amazônia. Ela que tem me ensinado o português, hoje estamos casados e aprendo todos os dias novas palavras e a cultura de São Paulo e do Brasil”, diagnostica o jovem com olhar apaixonado e já adaptado a cultura da capital Ahmad.


O Brasil está entre os países que mais recebem refugiados de guerra na América do Sul e ainda promete ampliar a emissão de vistos para refugiados de países em guerra. Mas estes estrangeiros reclamam de dificuldades - especialmente em São Paulo, onde o valor dos aluguéis dobrou nos últimos sete anos (a inflação no período foi de 54%). A opção de muitos Sírios e Árabes acaba sendo vender comidas típicas da sua terra, o que não traz uma boa renda, mas os ajuda a sobreviver.


Assim como os Árabes e Sírios vem se refugiando em São Paulo, diversas outras culturas se enraizaram na capital. Como é o caso de Italianos, Judeus, Japoneses, Bolivianos, Coreanos e outros. No bairro Higienópolis tem um pedaço dessa cultura maravilhosa, talvez os filhos e netos de judeus preferissem ter sido criados lá, vivendo a sua cultura junto com as pessoas que são como eles, mas o ódio barato e o amor pela vida os tiraram de seu cidade natal e hoje apesar da vontade de estar lá, São Paulo os recebe de braços abertos e com um lugarzinho todo especial para eles.


Os coreanos também possuem uma presença forte na cidade da garoa. Iniciaram sua entrada no comércio oficial do Bom Retiro e do Brás, com a venda de roupas artesanais, nas ruas. Depois passaram a ocupar os espaços deixados pelos judeus, fazendo um esquema de pronta entrega, em que a confecção deixava pronta as roupas sem precisar fazer um pedido antecipado. Os coreanos introduziram a venda de atacado para a comercialização do bairro e da cidade de São Paulo, Patrícia Kim relata sua experiência, "creio que os coreanos colaboraram bastante para deixar a moda mais acessível no Brasil pois antigamente só existia roupa básica ou de marcas mais caras, os coreanos conseguiram fazer roupas de moda com custo baixo para a população mais carente no início, e depois para as várias camadas da população conforme a expansão e crescimento das confecções ", assim conclui que a história da confecção atual brasileira está ligada aos imigrantes coreanos.



O Brasil é um país de misturas, filhos de descendentes de diversas culturas formam uma nação rica em diversas tradições e que facilita a entrada de refugiados. As oportunidades não são as mesmas do país de origem, mas os antigos refugiados mostram que é possível crescer e encontrar seu espaço em São Paulo.


 
 
 

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